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Conflito

Você gosta de lavar louça? Eu não ligo muito, mas tem gente que odeia! E tem gente que gosta. Na sua casa, você pode lavar a louça quando seus familiares mandam, sem reclamar, isso é uma forma interação humana chamada colaboração. Uma outra forma de interação é se recusar a lavar a louça e arrumar uma briga… isso é um conflito.

 

 

conflito, poder, conceitos da ciência política e violência
Lavar a louça: uma atividade reflexiva sobre poder, subordinação e raiva!

 

 

Os conflitos acontecem porque as pessoas possuem interesses diversos, nem sempre confluentes (no mesmo sentido), e que muitas vezes são interesses justamente contrários. A sua família pode precisar que você lave a louça hoje, mas você pode querer ouvir música. Quem está certo?

Todo mundo está certo. Os interesses são reais, importantes, legítimos (vou explicar essa palavra) mas não quer dizer que um não se sobreponha ao outro. Entre ouvir música e lavar a louça, você sabe o que deve fazer! Mas não significa negar que você esteja interessado em ouvir música e que exista um conflito entre as duas atividades.

 

 

conflito e ciência política e os conceitos da ciência política
Nem é tão difícil conciliar música com louça! Mas eu só consigo fazer uma coisa de cada vez…

 

 

O conflito acontece, é essa relação antagônica, são duas forças opostas que entram em embate. Um quer uma coisa, outro quer outra. Alguns autores dizem que é da natureza e esperado, outros dizem que é um fenomeno humano, e outros dizem que o conflito é uma anomalia das relações sociais. Mas de qualquer modo, NINGUEM nega que os conflitos existem! É uma forma de interação entre pessoas.

Alguns autores, como Kant, Durkheim, Parsons, Merton e Comte acham que os conflitos são de certo modo uma “anomalia” da sociedade. Outros acham que é parte da sociedade, algo mais “natural”, como Touraine, Dahrendorf e Marx.

Eu já lavei muita louça, por isso, concordo com estes últimos, que é sim natural que as pessoas tenham interesses diferentes. Não seja imatur@! Não quer dizer que porque existem interesses diferentes não há regras… existem regras que se sobrepõem aos interesses. Um filho deve obedecer seus pais, assim como na sociedade há a lei, mas isso tem um limite. Um filho não deve obedecer um pai que o obrigue a roubar porque não é correto, assim como uma pessoa não deve ser explorada ou explorar outras. Mas são questões humanas, cujos limites entre o certo e errado é dado pela cultura, por exemplo, ou pela convicção/formação de cada indivíduo.

 

 

conceitos da ciência política
Você é humano, então entra em conflito até com você mesmo!

Consenso

É o contrário do conflito, é concordar. Quanto mais “homogênea” é uma sociedade, maior o nível de consenso. Uma família geralmente é bastante homogênea se comparada com a cidade toda. Isso porque uma família geralmente compartilha de valores bastantes parecidos.

 

 

conflito e ciência política + conceitos da ciência política
Não temos consenso nem com nossa família, nem com a cidade, nem com o país, nem com outros povos! Ou temos?

 

 

Aqui no Brasil, comer sentado numa cadeira alta é um tipo de consenso, alguém discorda disso na sua casa? Os orientais possuem formas diferentes de se alimentar, tanto em relação à mesa quanto o corpo (que eu admiro!) Mas não é o costume na maior parte do Brasil. Então se você chegar numa churrascaria tipicamente brasileira e pedir para sentar no chão, criará um conflito, provavelmente! E se conseguir, depois de comer um rodízio, não conseguirá nem levantar!

 

 

conflito e ciência política + conceitos da ciência política
No oriente possuem uma forma diferente de se sentarem à “mesa”. É tradição, é cultura, é consenso esse modo para eles!

 

 

Quanto mais uma sociedade compartilha valores parecidos, menos conflitos surgem e mais consensos aparecem. E quando o consenso diminui, aparece o conflito,  se esse conflito não é resolvido, aparece a violência. Pode-se dizer que uma sociedade muito violenta é uma sociedade com poucos consensos. Se você briga muito com sua família, significa que você possui poucos consensos (acordos) com sua família, que você discorda muito.

Mas repare que consenso é diferente de homogeneidade. Não quer dizer que todos precisem pensar de forma igual ou concordar com as mesmas coisas, mas sim que todos aceitam decisões da coletividade, do grupo, em maior ou menor medida. Desse modo já se constrói o consenso.

Então é assim: vamos pintar todas as casas no Brasil de azul! Você concorda com isso? Provavelmente não, tudo ficaria muito chato e feio! Mas se você não se manifestar contra isso, não fizer nada, poderemos dizer que há um novo consenso no Brasil, um consenso de que todas as casas devem ser azuis! Mas se você lutar contra isso, escrever e falar contra, poderemos dizer que “diminuiu o consenso no Brasil”. Se uma boa parte do Brasil discordar de pintar tudo de azul e não resolvermos isso entre nós, poderá até surgir umas brigas, e assim aumentará a violência.

Sacou a relação consenso e violência?

 

 

 

consenso e ciência política + poder
Se você não briga, não se manifesta, como todo mundo vai saber que você não concorda? Manifeste-se, e participe do consenso!

 

 

Hora da prova 1!

(as respostas estão no final, mas não olhe agora, porque tem outra prova! e não vale colar!)

Responda essas perguntas mentalmente para vermos se você está entendendo:

  1. O Brasil é um país violento?

  2. Como podemos explicar essa violência, conforme os conceitos explicados (conflito, consenso, violência)?

Política

Na nossa casa há os pais, que fazem as regras. Na sociedade a coisa não é bem assim, porque modernamente somos consideradxs todxs iguais. Quem fica responsável pelos os consensos e conflitos na nossa sociedade são os políticos. Eles são eleitos para representar um grupo, um bairro, um estado. E eles representam, mas nem sempre chegam a um acordo. Por isso que o político promete, mas nem sempre cumpre, porque lá em cima não conseguiu chegar a um acordo.

A política é basicamente debater sobre o que é público, de interesse de toda a sociedade.

Proteger as natureza é um interesse da sociedade? Claro! Mas proteger a natureza tem o mesmo significado para toda a sociedade? Não! Muita gente acha que a floresta deve ficar intocada, outros acham que devemos vivem em harmonia com ela, outros nem querem saber dessa história porque gostam mesmo é de shopping! E quem está certo?

 

 

consenso, conflito e ciência política
Há interesses diversos sobre a natureza. Mas discordar é da humana natureza?

 

 

Os políticos representam esses grupos, inclusive eventuais minorias que defendam o fim das florestas… Existe o lado certo e o errado? Talvez, mas quem define quem ganha essa luta serão os políticos, discutindo a esfera pública, votando e representando os interesses dos diferentes grupos, queira você ou não.

Aliás, você não acha que na sociedade existem grupos que lavam a louça e grupos que não lavam? Grupos que são mais fortes ou mais fracos? Grupos maiores e menores? Claro que sim! É na política que eles se enfrentam, porque sem a política teríamos que nos enfrentar onde? No campo de batalha? Eu luto jiu jitsu e boxe, e você? Será que seria correto nós brigarmos?

 

 

política, consenso, conflito e poder
Qual é o contrário da política?

 

Poder

Max Weber definia o poder como a probabilidade de alguém impor a vontade a outra pessoa, mesmo que exista resistência. O Robert Dahl dizia que ‘a’ exerce poder sobre ‘b’  quando este faz algo por imposição, que não faria de outro modo.

 

 

política, consenso, conflito e poder
O que é o poder? Substância ou característica? Físico?

 

 

Então poder é ter a faculdade (a possibilidade, a probabilidade de usar ou não) de fazer alguém obedecer uma ordem sua. O Foucault falava que todo mundo tem um pouco de poder, o que é verdade nesse sentido. Você dá umas ordens sobre o seus irmãos mais novos? Ou obedece os mais velhos? Então está aí o tal do “poder”!

Em geral, o poder tem algumas características:

  1. Relacional: envolve duas ou mais pessoas, numa relação;
  2. Assimétrico: essas pessoas não possuem poderes exatamente iguais, uma é sempre mais poderosa que a outra em algum sentido;
  3. Relativo: depende da situação;
  4. Mensurável: é possível “medir” o poder;
  5. Não é neutro: quem exerce o poder o faz sempre para atingir um objetivo;

A Hanna Arendt classificava o poder em dois grupos, o clássico e o moderno. No poder clássico há o poder paterno, o despótico e o político. No poder moderno há os poderes econômicos, políticos e ideológicos. Então perceba que não há consenso entre os autores sobre uma definição de poder, assim, o poder não é algo objetivo, que existe lá parado como se fosse uma melancia!

 

 

Entenda: o poder não é uma melancia! A melancia, sim, é uma melancia!

 

 

O poder surge da relação entre seres, que possuem poderes assimétricos e, que para alguns autores, toda pessoa sempre possui algum tipo de poder.

 

Hora da prova Final!

  1. Qual a relação entre consenso e política?

2. Com base nessas informações, responda: o que é melhor para reduzir a violência numa sociedade:

a) Construir mais presídios;

b) Diminuir a maioridade penal (punir mais severamente pessoas mais jovens);

c) Colocar mais policiais na rua;

d) Aumentar e melhorar os debates políticos

 

Respostas sugeridas:

Prova 1:

1. O Brasil é um país violento?

Resposta: Sim, o Brasil é o 16º país mais violento do mundo conforme a Organização Mundial de Saúde.

2. Como podemos explicar essa violência, conforme os conceitos explicados (conflito, consenso, violência)?

Resposta: uma das possibilidades é que há um alto nível de conflito e um baixo nível de consenso em nossa sociedade, isso provoca um alto nível de violência. São causas históricas, problemas econômicos, de urbanização, etc.

Prova Final!
1. Qual a relação entre consenso e política?

Resposta: a política, em tese, constrói o consenso social. Não necessariamente a política institucional, eleita, mas qualquer processo político, inclusive no seu bairro, na sua casa.

2. Com base nessas informações, responda: Com base nessas informações, responda: o que é melhor para reduzir a violência numa sociedade: a) Construir mais presídios;b) Diminuir a maioridade penal (punir mais severamente pessoas mais jovens);c) Colocar mais policiais na rua;d) Aumentar e melhorar os debates políticos.

Resposta: evidentemente, aumentar a política é o que diminui a violência, porque propicia maior enfrentamento entre os setores da sociedade num campo menos traumático, que é o campo político. Diminuir idade penal, colocar mais policiais na rua ou mais presídios não ataca, em nenhum sentido cientificamente justificável, a violência. São medidas que as pessoas reconhecem como efetivas porque são visíveis, concretas, então polítiqueiros (não são políticos de fato) prometem essas medidas, para acalmar a população. São procedimentos retóricos, para ganhar a eleição.

 


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4 Thoughts to “No fundo, você é cientista político, sabia? Eu sei!”

  1. Cara, excelente texto ! Precisamos de mais ciência e filosofia para lidar com esse Brasil doido que estamos vivendo hoje na política…é muita confusão, talvez proposital ! Parabéns ! Virei um seguidor !

    1. Manoel Martins

      ahahaahahahah Agradeço muito João! O que me motiva é isso aí, que as pessoas curtam e que saiam do Blog com uma visão um pouco diferente! Agradeço mesmo! Até mais!

  2. Bom dia, ainda não ficou claro pra mim como que aumentar a política pode combater violência, roubo, tráfico, (ou quem sabe a corrupção). Pode me dar um exemplo?

    1. Manoel Martins

      Rodrigo, corrupção é diferente de violência… Trata-se de um artigo sobre Ciência Política, não sobre política pública. Mas vamos lá… Qual a causa do roubo? Qual a causa do tráfico? Em cada região, cidade, estado, podem existir causas específicas, que devem ser combatidas a partir de um debate público e político. “Roubar” comida pode ter como causa fome, miséria, má distribuição de renda. Roubar um banco pode ter outras causas. Tráfico de drogas só existe porque alguém consome, por exemplo. Quem consome droga? Se você prende quem rouba para comer ou trafica para lucrar com um amplo mercado, provavelmente virão novos ladrões e traficantes, já que as causas não foram atacadas, mas apenas os efeitos mais superficiais do problema social.

      Concorda comigo? O que nós dois estamos fazendo aqui é justamente um debate político, sobre violência… percebe? Pessoas discutindo (política) sobre causas da violência e sobre como atacá-la… política, meu caro! Não precisa de arma, precisamos de neurônios.

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