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*Publicado em 28/05/2008, no jornal O Imparcial, em Presidente Prudente-SP

 O Brasil é o único país cujos municípios são considerados entes federados. Há discussões sobre a possível representação destes no Senado; longa discussão política e sociológica motivada pela história. Questionamentos gerais à parte, que servem para dimensionar a importância da questão, a peculiar formação história da federação deve-se ao “localismo”, fruto de alguns fatores.

Em primeiro lugar, o isolamento físico ocasionado pela imensidão do território e pela densidade das florestas, somado ao fato de que, no período colonial, a única tecnologia de comunicação era a quase esquecida “Carta à mão”, favoreceu a estruturação de interesses diferenciados e extremamente peculiares de uma localidade em relação à outra.

Estes interesses locais construíram-se politicamente, de certa forma materializaram-se numa elite política local, num grupo de líderes, como naturalmente pode-se imaginar. Gaetano Mosca, fundador da Teoria das Elites, diz inclusive que é mais fácil a estruturação de uma elite (econômica e política) no local onde não exista nenhuma, porque quando já existem, tendem a se manter restritas a círculos familiares. E o período colonial forneceu bons espaços…

A chegada da corte no Brasil e a elevação deste a Reino Unido significou o inicio do Estado brasileiro. Início também de um funcionalismo público. Este primeiro Estado precisava constituir-se forte o bastante para afrontar os enraizados interesses locais e o poderio das elites oligárquicas. Os grandes estadistas da época, juntos ao grande funcionalismo público referido, e principalmente, aliados à elite econômica da capital (os comerciantes, interessados em status, logo na aproximação à nobreza) garantiram, com este grupo articulado, a unidade territorial do país. Em outras palavras: garantiram um Estado forte.

Tanto que o governo suplantou diversas revoltas pontuais e locais – até em períodos subseqüentes ao império, como no inicio da República Velha. Este suplantar de revoltas fez-se através da importante Guarda Nacional, instituição criada em 1839, um instrumento de conciliação entre a elite local e o império, pois essa guarda era fiel ao império, mas comandada localmente pelos famosos Coronéis.

Dois movimentos interessantes nessa Guarda Nacional: primeiro atribuíram o título de Coronel à um rico ilustre de uma determinada comunidade, de forma a suprir a antiga demanda dos ricos por títulos de nobreza. O segundo movimento é garantir a presença do império mesmo nos lugares mais isolados.

O Coronel é que nomeava desde a professorinha da escolinha, o diretor da escolinha também, até os cargos administrativos da cidade. Esta prerrogativa do Coronel obrigava a existência de fidelidade de todos os setores da população. Dos eremitas aos líderes, todos conformados, “dançavam conforme a música”, fato que deu origem aos currais eleitorais.

Hoje, para os mais revolucionários o império mudou de nome várias vezes, o nome de fato, não o de fantasia. Para os “alienados”, o império talvez nem tenha existido. A respeito dos Coronéis, idem. Mas o comum a ambos, revolucionários e “alienados”, é que são inevitavelmente inexpressivos, na medida em que as perspectivas vigentes sejam diferentes das que eles defendem, e o motivo não é que vivemos sob um regime “democrático”!. Pois a ordem de que a educação, por exemplo, tem que ser assim ou assado, continua a vir de imposições internacionais, e não das nossas opções políticas; e o Coronel continua a nomear os professores. Estamos todos, alienados de fato das decisões políticas; a aí a teoria fica pequena, para não dizer inútil.

Como dizia, há muito tempo, mas atualíssimo, Oswald Andrade: [E] “Os intelectuais brincando de roda.”.

 

 

 


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